Programa do TRT-PR há 17 anos ajuda adolescentes na conquista da emancipação social

Ampliar horizontes de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e ajudá-los a construir o próprio futuro, com conhecimento, vontade e dedicação, é a proposta do Programa de Inclusão Digital Roberto Dala Barba, desenvolvido pelo Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) desde 2005 e que retornou neste mês de Agosto, após dois anos suspenso por conta da pandemia de covid-19. Nesta nova turma, são 18 crianças e adolescentes. Do total, 12 advêm do Centro de Convivência Estrelar (antigo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI) e os outros seis foram encaminhados pela Universidade Livre para a Eficiência Humana (Unilehu), que trabalha com a profissionalização de pessoas com deficiência.

São meninas e meninos que aprenderão ao longo do semestre não apenas a usar programas de computador, escrever textos, trabalhar com planilhas e utilizar a internet como ferramenta de pesquisa. O foco também é a construção da cidadania, por meio de aulas que abordam o papel das instituições na sociedade, noções de identidade e autoestima e os direitos e deveres de cada cidadão. 

A presidente do TRT-PR, desembargadora Ana Carolina Zaina, esclarece que o curso é ministrado por voluntários, que são magistrados e servidores do TRT-PR ou de instituições parceiras, como a Polícia Militar do Paraná. “Aqui eles aprendem temas como o combate à violência doméstica, os riscos trazidos pelas drogas (lícitas ou ilícitas) e outras questões que afastam o ser humano de sua realização pessoal. Com educação e exemplos, acreditamos que a vida pode ser próspera e melhor, no caminho da felicidade. Esperamos que, no futuro, possamos levar este projeto também ao interior”, revela.

Sobre a efetividade da ação, a desembargadora Ana Zaina deu o seu testemunho. “O que posso dizer é que encontrei alunos empregados em supermercados, que me reconheceram e me chamaram, outros encontrei trabalhando em shoppings e dois eu sei que estão cursando Direito. Um deles formou-se e eu o encontrei aqui no nosso Fórum, advogando na área trabalhista”.

Por conta da pandemia de covid-19, esta é a primeira vez que a desembargadora Ilse Marcelina está à frente da Comissão de Responsabilidade Socioambiental durante toda a duração de uma turma Projeto Dala Barba. “Esse curso abre janelas para que as senhoras e os senhores realizem seus sonhos”, discursou aos alunos.

 Segundo a desembargadora Ilse, a principal novidade é a criação de uma premiação para os melhores alunos, como forma de estímulo para que se dediquem às aulas. “A ideia do prêmio é estimular a participação e frequência dos alunos, porque está havendo uma resistência muito grande para o retorno presencial, por conta de questões emocionais”.

Atualmente o projeto conta com 22 voluntários, que atuam como professores e monitores, e há necessidade de ampliar o grupo. Interessados em participar devem entrar em contato com o Setor de Sustentabilidade do TRT, pelos telefones 3310-1598 ou 3310-1424.

Primeiras impressões

J.C.A., 17, já concluiu o ensino médio e deseja ser professora de crianças. Ela foi encaminhada pela Unilehu. Durante a primeira aula, J. estava acompanhada de sua avó, que é sua mãe de criação e passava-lhe a confiança necessária para aquele momento de estranhamento em um ambiente novo. Em um misto de esperança e timidez, a adolescente declarou: “Eu quero aprender a mexer em computadores. Eu sou ruim nisso, mas nunca fiz curso ainda”.

A avó conta que faz tempo que a neta sonha em ser professora infantil. Diz que logo que a neta concluiu o ensino médio veio a pandemia de covid, e a família não tinha condições de pagar por um curso particular de informática, como forma de se qualificar para o mercado profissional ou mesmo para seguir estudando. “Ela ia fazer faculdade, mas a turma presencial não se completou e só tinha on-line, mas on-line ela disse que não conseguiria aprender, por ser muito difícil mexer em computador. Agora apareceu essa oportunidade e eu disse a ela ‘vamo lá, vamo fazer, que o possível é o que Deus dá pra gente fazer'”, revela.

Ao ser perguntada “qual o valor de uma oportunidade?”, dona Cibele diz que é algo que não tem preço, mas que é algo que é preciso querer para aproveitar. “Oportunidade é algo que se paga com gratidão”, finaliza.

Parcerias

O Projeto Dala Barba de Inclusão Digital não seria possível sem instituições parceiras, que colaboram de diversas formas. Desde o transporte, o material e mesmo o fornecimento de lanches adequados.

O presidente da Associação dos Magistrados Trabalhistas do Paraná (Amatra IX), juiz Felipe Augusto Calvet, ressalta que uma das linhas de atuação da Associação é o cuidado com questões sociais.  “A Amatra sempre apoiou estes projetos de educação como um todo e entende que uma das funções do Tribunal, além de entregar a prestação jurisdicional, é essa questão da inclusão social, porque eles são o futuro do nosso país e já são sujeitos de direito”, disse.

O Sindicato dos Servidores da Justiça do Trabalho é outro parceiro do Projeto Dala Barba. Os diretores Miguel Sandor Szollozi e Renato Celso de Moreira Filho são unânimes em afirmar que é um dever da instituição estar em ações do Tribunal que constroem uma sociedade mais justa. “A construção de uma sociedade melhor se faz com muitas mãos, e este é um dos deveres estatutários do Sindicato. Toda vez que a gente se posiciona, além do óbvio apoio à sociedade, a gente contribui também para a melhora da vida dos servidores”, afirma Renato.

Além da Amatra IX e do Sinjutra, a Unilehu e a prefeitura de Almirante Tamandaré, por meio da Secretaria da Família e Desenvolvimento Social, são outras instituições que fazem do Projeto Dala Barba uma iniciativa direta e efetiva na construção da cidadania desde o presente, assim como a possibilidade de um futuro melhor.

Roberto Dala Barba

No encerramento da cerimônia de abertura do curso, a presidente do TRT-PR destacou a figura do desembargador Roberto Dala Barba, falecido coincidentemente em agosto de 2005, aos 49 anos. No âmbito do Regional paranaense, Dala Barba foi um precursor da inclusão digital em uma época em que nem todos os profissionais do setor público eram familiarizados com a tecnologia. Ele também foi um visionário ao apontar a tecnologia como ferramenta essencial para a melhoria da qualidade da prestação jurisdicional, em especial quanto ao uso da internet e de redes internas.

Natural de Porto Alegre, Dala Barba foi servidor da Justiça do Trabalho nos TRTs do Paraná e de Santa Catarina de fevereiro de 1977 a julho de 1987. Aprovado em concurso público, ingressou na magistratura e atuou em Varas de Curitiba (1ª e 7ª), Cascavel (1ª e 2ª), Foz do Iguaçu, Jacarezinho e Ponta Grossa. Em 1990 tornou-se juiz titular e exerceu a jurisdição sucessivamente na 2ª Vara de Cascavel e na 9ª de Curitiba. Em maio de 2002, foi nomeado para a 2Instância do TRT. No Tribunal, integrava a 1ª Turma de juízes.

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